A triste Partida. Eu vou morreeeeeerrrrrrrr. _ 5ª Postagem

        
           Vários dias via mamãe chorando, tinha medo que fosse de novo a cegonha, mas
não era, acho que quando não suportava mais nos chamou e falou:  -- estou sem emprego, e se não tenho emprego, não tenho dinheiro, e vamos morrer de fome .Até ai eu não estava triste, minha mãe sempre dava um jeito e sei que daria agora, tivemos  sarampo, catapora, coqueluche (chamada de tosse braba, ou tosse de cachorro) foi tudo de uma vez, e por causa dessa bendita tosse nós tinhamos de tomar toda manhã,  leite de Jumenta, um alivio para minha mãe porque pela manhã não precisavamos tomar café. Eu não sei se foi bom ou ruim ficar boa da tosse, pois paramos de  tomar o leite, surgiu esse problema.
         Falou para mim: -- Nem, (eu) arrume suas roupas, vou lhe levar para casa de seus avós. Queria perguntar porque eu, mas tive medo do chinelo, fiquei pensando: " porque não vai Vivido ou Zizo", porque logo eu. Ela continuou falando: --  porque se vamos morrer de fome, pelo menos Nem escapa, e quem disse que eu queria escapar... preferia morrer de fome, do que de saudades, é claro que eu não sabia que aquela dor e vontade chorar que estava sentindo era medo e saudades antecipados. Peguei meus três vestidinhos, um de passear, dois para ficar em casa, umas calcinhas feitas de panos de sacos, já bem surradas, mas limpinhas, parecia coco, mamãe era muito cuidadosa com a gente, muito limpa, pobre tem mania de limpeza, com medo das pessoas falarem e sentirem nojo.
      
         Arrumamos minhas poucas coisas, minhas irmãs, minha mãe e eu começamos a chorar, minhas irmãs acompanharam até onde podia nos ver, acenando as mãos, eu também, minha garganta parecia está inflamada, de tão engasgada, sem poder falar. Fiquei com muita raiva da minha mãe, preferia morrer com minhas irmãs,  ia deixar eu morrer sozinha... de com saudades delas. Pensei que ela não gostava de mim.
    
         Fomos todo percurso caladas, quando chegou perto da casa, ela parou e disse-me: -- comporte-se e faça tudo que mandarem, outra coisa se perguntarem por sua irmã Zizo, fale que morreu, só tem a mais velha. Pensei: como minha irmã morreu rápido de fome .Chegamos na casa de meus avós.

        Fiquei estarrecida com a casa, quem só estava acostumada com casebres, estava diante de algo muito intimidador, chão brilhante dava para se ver, móveis bem cuidados, um cheiro delicioso de comida.

        Acho que já sabiam que eu ia ficar, porque minha mãe não falou nada, nem eles perguntaram, meu coração ia sair, pulava tanto, ansioso, com medo da palavra: -- vou embora!
        E chegou o triste momento, agarrei-me nas pernas de mamãe e fiquei chorando, que sensação horrível, de abandono, desespero, raiva. O pessoal não estavam achando aquilo muito bonito, nem comovente, lembro-me que arrancaram-me das pernas de mamãe, me faltou o folego, parecia que ia morrer

      Minha mãe saiu chorando eu não calei, não jantei, dormi de tanto chorar. Seguia-se os dias e eu cada dia mais triste, mamãe toda noite vinha me ver, eu ficava chorando e ela ia embora chorando e eles reclamavam: --   como essa menina vai acostumar se você vem todo dia aqui, é melhor não aparecer mais.

      Ela fingiu que não ouviu e vinha toda noite, eu passava o dia todo esperando-a, só esquecia um pouco quando D. Maria ia lavar roupas, pois ficava contando estórias infantis, eu ficava bestinha e amava ouvir.

       Não sei quanto tempo fiquei lá, só sei que foi terrivel, mamãe um dia chegou e falou: -- Arrume suas coisas vou levar você para casa .E fui toda feliz da vida, de volta para meu casebre.